Ter menos navios, menos cavalos e menos baionetas não torna os Estados
Unidos um país militarmente débil. Como sabemos, eles continuam sendo a
maior potência militar do mundo, a que dispõe de mais efetiva tecnologia
para a destruição e a morte. Além de seus mísseis, capazes de atingir
com precisão qualquer ponto do planeta, e de seus artefatos nucleares,
com o poder de arrasar o mundo, os arsenais ianques dispõem de armas
novas, já testadas, movidas a propulsão magnética, e de aviões não
tripulados que identificam eletronicamente os alvos e os atingem sem
interferência humana. A cada dia mais, a tecnologia dispensa os
soldados nas operações destrutivas, e os reserva para tarefas de
ocupação.
Quando qualquer nação não consegue defender seus interesses, legítimos,
ou não, mediante a diplomacia - o meio mais antigo e efetivo da política
externa - apela para as armas. O uso da força é proporcional à
debilidade do convencimento político. Na maioria das vezes, como
demonstra a história, as nações com ambição imperial combinam pressões
diplomáticas e ameaça militar, antes do uso efetivo das armas. Nesse
particular, os Estados Unidos são exemplo mais duradouro, desde que
surgiram como estado independente.
Ao mesmo tempo, a guerra pode ser vista como expediente do medo. É
preciso, nesta razão zarolha, destruir o inimigo, antes que ele ameace a
nossa existência. Não foi a coragem germânica que fez Hitler, mas o
medo. E o medo cresce, na medida em que se acumulam os atos de violência
bélica contra os outros. Sempre se teme a possível retaliação.
Outro problema é o desgaste do poder militar, quando lhe falta o apoio
moral dos povos a que pretende servir. Sem convicção é difícil vencer os
conflitos armados. É o que ocorreu na guerra do Vietnã, e volta a
ocorrer hoje, com relação ao Oriente Médio, não só nos Estados Unidos,
mas também na Europa. Ainda assim, os analistas consideram que o debate
sobre política internacional interessa menos aos eleitores
norte-americanos de hoje. O que os move é a situação econômica, com o
empobrecimento da maioria da população, e o enriquecimento, sempre mais
atrevido, dos rentistas. O predomínio da ganância, na estrutura do poder
nos estados modernos, está – mais uma vez – dividindo as sociedades
nacionais. Isso tanto pode conduzir às revoluções libertadoras, quanto à
apatia e ao conformismo, sob a tirania plutocrática.
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